quinta-feira, 18 de junho de 2009

Perspectiva, Propósito, e Paixão em Empreendimentos de Alta Tecnologia

ARTIGOS ESPECIAIS

18/06 - 19:40

Perspectiva, Propósito, e Paixão em Empreendimentos de Alta Tecnologia

São Paulo, 18 de junho de 2009 - Representante típico do empreendedor em alta tecnologia do vale do silício, Jen-Hsun Huang (co-fundador, presidente e CEO da NVIDIA Corporation), não se furta a destacar a importância dos elementos “paixão” e “propósito” no caminho para o sucesso num setor tão competitivo e tão dinâmico como a tecnologia da informação. “Ser pioneiro com uma empresa é mais que construir produtos. É também estabelecer uma cultura própria da empresa. Como é que você organiza hierarquias e estruturas? Há muito de tentativa e erro, mas é também um processo orgânico. É preciso se dar conta de que, para adquirir essas competências, intelecto e treinamento são importantes para uma evolução bem sucedida – mas não bastam. Realizadores precisam de paixão e propósito acima de tudo”, afirma Huang numa palestra aos alunos do programa de empreendedorismo da Stanford University. Em tom mais pragmático, Huang lembra que é fundamental se construir uma perspectiva própria: “Todo mundo tem uma perspectiva, mas chamá-la de ‘visão’ implica em elitismo e exclusão.” A NVIDIA surgiu em 1993 como a primeira empresa de computação gráfica em 3D voltada para o mercado consumidor, e enfrentou mais de 200 competidores em poucos anos, e mesmo assim é hoje a única remanescente no setor, apesar dos fartos recursos e espalhamento global de outros atores do setor que detinham talento de qualidade e tecnologia. A perspectiva da NVIDIA foi a primeira da sua classe, e os resultados têm revelado um novo sentido de senso comum que é, ao mesmo tempo, perturbador do status quo. Essa perspectiva – e não visão – permitiu que a empresa criasse nova tecnologia, novos mercados, novos clientes, e amplo sucesso. O fato é que, sob a liderança de Huang, a NVIDIA se tornou uma das maiores empresas de semicondutores do mundo, tendo recebido inúmeros prêmios de negócios e tecnologia incluindo o “Fastest Growing Companies” da Forbes, o “Top 40” da revista Wired, e a “Empresa do Ano” da Stanford Business School. Segundo o “Steam Hardware Survey” (levantamento mensal do tipo de computador usado pelos clientes de vídeo game), NVIDIA teve, em números de Maio de 2009, 65,38% do mercado de placa de vídeo para PCs.

Levando-se em conta somente a indústria de vídeo game, verifica-se o tamanho da importância econômica da NVIDIA: mesmo com a retração na economia e o aumento do desemprego, Daniel Ernst, analista da Hudson Square Research, estima que o montante de vendas de vídeo games para o ano fiscal americano terminando em Março chegue a US$28,7 bilhões, um aumento anual de 13%, atingindo um volume maior que os US$27 bilhões da indústria do cinema. Dados revelados pela Entertainment Software Association durante a recente E3 (exposição anual da indústria do video game) em Los Angeles, a partir de números da In-Game Advertising Worldwide, os orçamentos das marcas corporativas para a propaganda “in-game” (i.e., dentro do vídeo game) aumentou de aproximadamente US$30 mil a US$40 mil por campanha há cerca de dois anos para nada menos que US$600 mil por campanha hoje em dia. Outros números impressionantes: em matéria especial da agência Reuters, foi revelado que entre os 40 mais ricos homens de negócios do Japão, quem mais aumentou sua fortuna no período 2007-2008 foi o já 1o colocado, e um tanto discreto, chairman da Nintendo, Hiroshi Yamauchi, cuja fortuna chegou a US$ 3 bilhões, triplicando em relação ao ano anterior graças ao enorme sucesso de vendas da console Wii.

Não obstante, como disse Charlie Rose em introdução ao entrevistado Jen-Hsun Huang em 05/02/09, “NVIDIA é muito mais que a força-motriz de vídeo games para PCs: computação visual está revolucionando muitos aspectos de nossas vidas, desde smartphones e computadores de mão, a equipamentos médicos de varredura e de exploração de energia.” Em resposta à pergunta inicial de Rose (“o que foi que você e sua empresa contribuíram para o mundo, e com o que estamos nos deparando?”), Huang declara: “inventamos um produto chamado GPU (‘Graphics Processing Unit’, unidade processadora de gráfico) que torna possível que vejamos informação através do computador de uma maneira que não era possível anteriormente”. Em analogia ao deslocamento de relevância observado no universo do software, em que a Google leva vantagem sobre a Microsoft caso a tendência para a computação nas nuvens prevaleça, Huang sugere que a GPU pode estar trazendo para si um maior grau de relevância que a própria CPU de um computador. Essa é sem dúvida uma perspectiva um tanto própria, que tem de ser levada em conta em razão de todas as evidências recentes apontando para um crescimento de demanda por computação visual.

"Quando você está na indústria de tecnologia,... se você não estiver se reinventando, você está morrendo lentamente," diz Huang. É preciso que os líderes de mercado canibalizem seus próprios produtos, pois novas idéias forçarão as empresas a abandonar suas próprias tecnologias e processos no caminho do progresso. “Se você não assumir essa atitude com seu próprio negócio, seus competidores certamente o farão por você. O fato é que o mercado não fixa o preço, mas a competição sim. E a função de um gestor eficaz é decidir como alocar os recursos para o melhor retorno, e se o caminho escolhido tem valor para a empresa”, continua Huang. Tudo que deu certo numa empresa de tecnologia tem que em algum momento ser desconstruído e reconstruído novamente, e esse é um dos mais sufocantes desafios por trás uma liderança eficaz. Trata-se de tarefa ao mesmo tempo gratificante e destrutiva, e ainda assim uma demanda inexorável do mercado nesse setor.

Como testemunha recente de seu espírito constantemente renovador, num momento em que os consumidores estavam começando a entender o conceito de “netbook” — aqueles PCs menores que laptops — a NVIDIA anunciou que pretende mostrar competências multimídia de dispositivos baseados no seu chip Tegra (um processador de arquitetura integrada, “sistema-num-único-chip”, derivada da família ARM de chips de conjunto reduzido de instruções, projetado para dispositivos móveis tais como smartphones, PDA’s e MID’s. A empresa conversou recentemente com Ashlee Vance (“Forget Netbooks; Now Mini-Laptops Are Smartbooks”, Wall Street Journal, 29/05/09) sobre a possibilidade da indústria lançar laptops que incluem telas removíveis, dentro das quais haveria um chip Tegra que permitiria que a própria tela obtivesse acesso à internet e processasse dados. Dessa forma, o consumidor adquiriria um laptop e um leitor de livro eletrônico (“e-reader”) ao mesmo tempo.

Ao mesmo tempo que mantém um olho nas tendências do mercado, a NVIDIA, liderada por um típico empreendedor do Vale do Silício formado na Stanford University, cuida em guardar o sentido ao mesmo tempo criativo e experimentador (científico) tão crucial nesse setor: em 2008 a empresa firmou parceria com Stanford como membro fundador do Laboratório de Paralelismo Pervasivo, cujo objetivo é desenvolver novas técnicas, ferramentas e materiais de treinamento para permitir que engenheiros de software tirem o máximo proveito dos sistemas de computação multi-processadores. Numa outra parceria com a alma mater de Huang, a NVIDIA colabora com pesquisadores de Stanford no projeto “Folding@home” de computação distribuída que utiliza a potência de computação das GPU’s e de computadores subutilizados para simular a montagem de proteínas de modo a ajudar a encontrar cura para doenças que ameaçam vidas.

De sua parte, Huang, um ex-aluno do mestrado em engenharia elétrica de Stanford, anunciou em Setembro de 2008 uma doação de US$30 milhões para ajudar a construir uma nova unidade na Escola de Engenharia, o “Jen-Hsun Huang School of Engineering Center”, que deverá estar concluído até o final do primeiro semestre de 2008. Em seu pronunciamento, Huang declara: "A Escola de Engenharia de Stanford é uma principal fonte de energia intelectual para o Vale do Silício e além (…) Estou orgulhoso em ajudar a escola a construir um quartel general que encorpa seus planos para o futuro – um lugar para onde as pessoas vêm juntas para criar a próxima geração de conhecimento e tecnologia."

Eis aqui mais um caso que justifica chamar Stanford de “Nova Florença”, e o que ali se processa de “Novo Renascimento”.

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

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