terça-feira, 8 de dezembro de 2009

As Tecnologias da Web 2.0 e o Paradigma ‘Enterprise 2.0’

As Tecnologias da Web 2.0 e o Paradigma ‘Enterprise 2.0’

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8 de dezembro de 2009 - Num momento em que as tecnologias de comunicação incorporam o chamado software social, que permite aos seus usuários interagir e compartilhar dados complexos de forma ágil e fácil, tirar proveito do poder dessas novas tecnologias é crítico para que as empresas permaneçam competitivas alavancando o poder dos efeitos de rede de seus empregados. Isso sem falar na necessidade de atração e retenção da próxima geração de empregados mais jovens e mais espertos, bem como no aproveitamento da onda de inovação na internet (blogs, redes sociais, wikis) beneficiando-se do potencial inexplorado da sua força de trabalho nas áreas de inovação, colaboração, e produtividade.


Em seu artigo seminal “Enterprise 2.0: The Dawn of Emergent Collaboration” (MIT Sloan Management Review, 2006), Andrew McAfee observa que a maioria das tecnologias da informação utilizadas pelos chamados “empregados do conhecimento” podem ser classificadas em duas categorias: canais e plataformas. Típicos do e-mail e da mensagem instantânea, os canais propiciam que a informação digital seja criada e distribuída por qualquer um, mas o grau de comunalidade dessa informação é muito baixo, mesmo que todos tenham sua caixa de mensagem no mesmo servidor, ou que utilizem uma mesma lista de discussão. Por outro lado, nas plataformas (tais como intranets, portais corporativos, e portais de informação) o conteúdo é gerado, ou pelo menos aprovado, por um pequeno grupo, mas é visível amplamente, pois, diferentemente do caso dos canais, a produção de informações é centralizada e a comunalidade é alta. O fato é que estamos situados no ponto de inflexão no que diz respeito à evolução dos meios de comunicação: se o e-mail foi revolucionário quando surgiu, hoje podemos nos comunicar utilzando blogs e páginas web. Bem diferente do vai-e-vem do e-mail, que se configura como um meio de comunicação inerentemente privado, a comunicação por plataforma é inerentemente pública, isto é, por natureza apropriada para o compartilhamento.

Do ponto de vista da comunicação entre os empregados do conhecimento de uma dada corporação, as tecnologias atualmente utilizadas não parecem oferecer o melhor dos ambientes para a captura desse conhecimento coletivo. Comunicando-se através de canais, que não podem ser acessados por ninguém além do destinatário da mensagem, e visitando portais sobre os quais não podem depositar contribuições, esses empregados terão dificuldade em descobrir, por exemplo, quem está trabalhando em questões semelhantes, quais são os tópicos em maior evidência no setor de pesquisa e desenvolvimento da corporação, qual a melhor forma de abordar determinada análise.
Com a evolução da internet interativa, a popularização das redes sociais, dos blogs, e das wikis, aos poucos a cultura de colaboração começa a invadir as práticas corporativas. Como diz McAfee em artigo recente no Harvard Business Review (“Shattering the Myths About Enterprise 2.0”, Nov 2009), a colaboração digital está a todo vapor no mundo dos negócios. Em todos os setores da indústria observa-se que as empresas estão aderindo às plataformas de software que propiciam aos seus empregados produzirem mais e com melhor qualidade. Um estudo de Maio de 2009 da Forrester Research revelou que quase 50% das empresas nos EUA usam algum tipo de software social. Por sua vez, um levantamento da Prescient Digital Media de Julho de 2009 apontou que 47% dos entrevistados estavam usando wikis, e 46% utilizavam forums de discussão internos.

Subjacente a toda essa tendência está a chamada “Web 2.0”, termo inventado em 2004 pelo blogueiro e entusiasta do software social Tim O’Reilly para se referir à capacidade da internet de permitir a qualquer pessoa, mesmo não envolvida com tecnologia, que se conecte com outras pessoas e possa contribuir com conteúdo. Desde as redes sociais como Facebook, passando pelo microblog Twitter, pelo portal de videos produzidos pelo usuário YouTube, até a fenomenal enciclopédia coletiva Wikipedia, muitos são os exemplos bem sucedidos que consolidam essa tendência. Em seu artigo supracitado de 2006, McAfee usou o termo ‘Enterprise 2.0’ para chamar à atenção para o fato de que algumas empresas mais espertas estavam incorporando as tecnologias da Web 2.0, assim como a abordagem subjacente para a colaboração e a criação de conteúdo. De lá para cá, o termo deu origem a um verdadeiro movimento de modernização da cultura de utilização de tecnologia da informação nas práticas corporativas, chegando a representar uma alternativa supostamente mais apropriada (para a dinâmica de avanços da atualidade) que a abordagem mais tradicional representada pelos sistemas de “Enterprise Resource Planning” (ERP) que se prestam para o gerenciamento de todo o fluxo de informações de uma corporação a partir de dados compartilhados. Segundo McAfee, o diferencial da abordagem Enterprise 2.0 é da própria natureza das tecnologias da internet interativa: não há uma estrutura imposta a priori na comunicação, pois a estrutura emerge da própria dinâmica da interação colaborativa, e isso pode ser extremamente benéfico para os quesitos inovação e compartilhamento do conhecimento de uma dada corporação.

Ainda segundo McAfee, o termo ‘Enterprise 2.0’, que se tornou também o título de um encontro anual que “promove uma visão abrangente das mais importantes tecnologias e iniciativas organizacionais necessárias para sustentar uma vantagem competitiva no mercado mutante de hoje em dia”, diz respeito a como uma organização usa plataformas de software social emergente (em inglês, “emergent social software platforms”, abrev. ESSP) para perseguir seus objetivos. E a idéia é que essa definição enfatize o aspecto mais contundente dessas novas tecnologias: nada de impor workflows, papéis e responsabilidades pré-determinados, ou interdependências entre as pessoas, mas sim permitir que venham a emergir a partir da dinâmica de formação das redes de relacionamentos.

Vários são os benefícios dos ESSP’s, a começar por oferecer um serviço de busca, facilitando que as pessoas encontrem informações e orientação, e minimizando assim a duplicação de esforços. Além do mais, os processos de inovação são abertos a mais pessoas, e dessa forma o aproveitamento da inteligência coletiva pode ser significativamente melhorado. Como se não fosse bastante, aos executivos abre-se a possibilidade de dispor de um repositório atualizado em tempo real de tudo que se refere ao conhecimento que a corporação detém.

Há, no entanto, resistência à adoção da abordagem Enterprise 2.0 devido sobretudo ao fato de que se receia que os riscos se sobreponham aos benefícios. Desde a utilização das plataformas para a circulação de conteúdo inapropriado, até o vazamento de informações confidenciais, passando pelo risco da circulação de informação incorreta ou recomendação equivocada, todas essas críticas são analisadas e refutadas por McAfee em seu artigo supracitado.
Na introdução de seu livro que acaba de ser publicado, “Enterprise 2.0: New Collaborative Tools for Your Organization's Toughest Challenges” (Harvard Business School Press, 16/Novembro/2009), McAfee diz que o uso de tecnologia para juntar as pessoas e deixá-las interagir sem especificar como parece uma receita para o caos, mas é exatamente o contrário: padrões e estrutura emergem mesmo não tendo sido impostas a priori.
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Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Investimentos e Notícias (Sáo Paulo), 08/11/2009, 10:22hs, http://www.investimentosenoticias.com.br/ultimas-noticias/artigos-especiais/as-tecnologias-da-web-2-0-e-o-paradigma-enterprise-2-0.html


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